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Filhos, pais, avós…

17 de March 2012

Filhos, pais, avós…

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias de igual maneira. Crescem de repente.

Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

Onde é que andou a crescendo aquela criancinha que você não percebeu? Onde está a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme da creche?
A criança cresce num ritual de obediência orgânica e desobediência civil.

Ali estamos, com os cabelos esbranquiçados. Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas.

E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com os nossos acertos e erros. Principalmente com os erros que esperamos que não repitam.
Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios filhos.

Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judo. Saíram do banco de trás e passaram para o volante das suas próprias vidas.

Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvir a sua alma respirar conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, pósteres, agendas coloridas e discos ensurdecedores.

Então, a memória faz-nos perceber que não aproveitámos o tempo com eles, cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.

No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscina e amiguinhos.

Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chicletes e cantorias sem fim. Depois, chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar os amigos e os primeiros namorados.

Os pais ficaram exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas “crianças”. Chega o momento em que só nos resta ficar de longe, torcendo e orando muito (nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprendemos a falar com Deus) para que eles acertem nas escolhas em busca de felicidade.

E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar: qualquer hora podem-nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e adormecido, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer connosco.

Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam.

Aprendemos a ser filhos depois que somos pais. Só aprendemos a ser pais depois que somos avós…

Espero ter colaborado em algo, Bjf

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